“Estamos vivendo uma crise na educação”. É com essa frase impactante que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman abriu sua palestra durante o encontro internacional Educação 360. Realizado pelos jornais O Globo e Extra, em parceria com a prefeitura do Rio de Janeiro e o Sesc, com apoio da TV Globo e do Canal Futura, o evento aconteceu na última semana.

Ao contrário do que a plateia podia esperar, Bauman não revelou soluções e sim muitos pontos para reflexão. “A crise deve permanecer sob a análise de três aspectos: contexto digital atual, modificação no modo de pensar do ser humano e impacto dessas transformações no sistema educacional”, diz.

Novo contexto

Para o sociólogo, a era computadorizada produziu um novo ser humano, ou seja, um indivíduo totalmente diferente daquele que viveu até os anos 1970. “Atualmente, basta ter um celular para que todos tenham acesso às pessoas, às informações na internet e a todos os lugares pelo GPS”, explica.

Dessa maneira, o modo de pensar também foi influenciado. Exemplo disso é a crise de atenção. “Somos cada vez menos capazes de nos dedicar por um longo tempo, de maneira adequada, a uma tarefa”, revela. Professores universitários vivem se queixando de que seus alunos não conseguem ler artigos inteiros e, por isso, indicam fragmentos de textos e citações de frases de importantes autores.

A habilidade de estar focado foi substituída pela habilidade de receber informações curtas e sobrepostas. “As informações são pedaços que substituem os argumentos completos. Elas são breves para ter mais consumidores, como o Twitter, por exemplo”, conta. A paciência das pessoas também foi impactada. Bauman sinaliza que o ser humano não é mais capaz de esperar. “Se o navegador de internet demora em abrir, já ficamos nervosos”, diz.

Planejar em longo prazo

Diante de um auditório lotado, o sociólogo provocou: “Será que essa transformação é para melhor? Não sabemos. Não há como contestar a vantagem da internet em nossas vidas e o acesso à informação. Hoje, não é necessário mais memorizar o conhecimento. Mas há um novo problema. Como vou compreender essas milhares de respostas que um buscador como o Google traz?”

Como todas as mudanças, há vantagens e desvantagens. Segundo ele, não só o intelecto foi afetado. As novas tecnologias influenciaram também a relação entre as pessoas. O novo cenário desafia e transforma a posição secular do docente. Para Bauman, “não há como voltar à situação em que o professor era o único conhecedor, a única fonte, o único guia”. Diante desse enorme desafio, a saída é encarar a “educação como um investimento para os próximos cem anos”, finaliza.

Fonte: Revista Crescer

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