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Marcelo Tas, jornalista e apresentador de TV, escreve em uma coluna da revista Crescer. Confira seu post sobre Gerações e as diversas indagações que sua filha, Clarice, de 9 anos, faz.

 

Sou conhecido por algumas crianças, algumas já crescidinhas, como um cara capaz de responder a qualquer pergunta. É coisa do meu passado de Telekid, personagem da série infantil Castelo Rá-Tim-Bum, na TV Cultura. Em meados dos anos 1990, com uma espécie de smartphone primitivo na mão, eu conseguia desentortar qualquer ponto de interrogação com o bordão: “Porque sim não é resposta!”

Deve ser por isso que a decepção da minha filha Clarice é grande. O pai dela, o sabichão da televisão, não sabe nem por onde começar a explicação das dúvidas trazidas por ela: quanto tempo dura uma geração? Quantas gerações já passaram pelo mundo? As novas gerações fazem cada pergunta, viu…

Vou atrás e descubro que faço parte da primeira geração que ficou carimbada com nome e razão social: a geração Baby Boom. A expressão é por conta do nascimento acelerado de bebês entre 1950 e 1963, depois do sufoco da Segunda Guerra Mundial. Inicia-se ali uma coleção de teses sobre o comportamento de humanos devido ao fato de pertencerem a uma mesma geração. Há quem garanta que os baby boommers, por exemplo, com o intuito de proporcionar um mundo melhor que aquele onde viveram seus pais, acabaram sendo liberais demais com os filhos, a Geração X, que seria supostamente uma geração de mimados. Será?

A moda de usar letras do alfabeto para rotular gerações continuou. Vieram as gerações Y, Z… e, talvez pelo fim do alfabeto, os rotuladores de geração aparentemente desistiram de dar nome e conferir qualidades ao coletivo de seres humanos, classificados como pastas suspensas em um cartório pela data de nascimento. Nunca engoli essa divisão geracional.

Só que as perguntas da Clarice são legítimas e continuam sem resposta: quanto tempo dura uma geração? Quantas gerações já passaram pelo mundo? Atribui-se o conceito ao filósofo grego Heráclito, nascido em 535 a.C., um cara obcecado com o entendimento do fluir do tempo. É dele a bela sacada de que ninguém consegue se banhar duas vezes nas mesmas águas de um rio. Heráclito denominou de geração (genean) o espaço de tempo que leva para um pai ver seu filho gerar outro filho, ou seja, para que o pai vire avô.

Considerando que a civilização humana existe há 200 mil anos, e o espaço de uma geração, em média, como 40 anos, pode-se concluir que já passaram por esse planetinha cerca de 5 mil gerações. A descoberta mais espantosa aparece no final da minha busca. A primeira geração de mulheres que teve acesso à educação formal foram as frequentadoras do Queen’s College de Londres, escola fundada em 1848, já em meados do século 19, praticamente ontem!

Ou seja, entre as 5 mil gerações que já passaram pelo mundo, apenas as últimas quatro de mulheres tiveram acesso à educação! Pausa para reflexão. Talvez entenda melhor agora a ansiedade com que Clarice quer compreender a passagem do tempo até a geração dela. Que cada um de nós, homens e mulheres, saibamos favorecer o curso da história para compensar essa dívida colossal.

MARCELO TAS é jornalista e apresentador de TV, casado
com a atriz Bel Kowarick e tem três filhos:
Luc, 26 anos, Miguel, 14, e Clarice, 9
E-mail: crescer@marcelotas.com.br

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