A criatividade das crianças não tem fim! Ou será que tem? A resposta é fácil: basta você pensar em si mesmo. Qual foi o momento em que você deixou de ter uma imaginação fértil, livre, cheia de cores e possibilidades? Quando começou a se incomodar por tomar chuva ou a não ter tempo para fazer pequenas coisas que te deixam feliz? Infelizmente, toda aquela curiosidade que tínhamos quando crianças se transformam com o tempo – e com a vida real. E parece que, em parte, perdemos um pouco da alegria de viver.
Esse é o tema do curta-metragem Alike (assista abaixo), que mostra como a criatividade das crianças vai lentamente desaparecendo ao adquirirem responsabilidades, receberem uma educação formal e se alimentarem com doses diárias de “vida adulta”. Sem querer, os adultos vão minando a criatividade da criança ao censurar seu comportamento e criticá-la, o que provoca baixa auto-estima, insegurança, medo de se expor. Assim como no curta-metragem, que é cativante, fofo e objetivo, tiramos a cor, a diversão, a curiosidade e a possibilidade de sonhar do dia a dia da criança – e fincamos seus pés no chão.
Para a psicopedagoga Irene Maluf, da Associação Brasileira de Psicopedagogia, a maneira mais importante de cultivar a criatividade de uma criança é deixá-la brincar, brincar e brincar: “Crianças que brincam pouco durante a primeira infância revelam problemas de alfabetização e aprendizagem em geral, pois permanecem imaturas por não terem desenvolvido habilidades iniciais básicas”.
A ideia é que pai e mãe participem dessas brincadeiras também e façam atividades em família: leiam junto com a criança, montem peças de teatro, dancem pela casa e, sempre que possível, fujam da rotina – ainda que apenas na imaginação! Que tal sugerirem à criança que acampem na sala de casa esta noite? “Os adultos precisam entender que o cérebro da criança precisa brincar assim como precisa de oxigênio e alimento. Como pais, devemos proporcionar ambientes emocionalmente saudáveis, amorosos, ricos em estímulos e seguros, que permitam brincadeiras exploratórias, despertem a curiosidade e o desejo de criar e modificar. É isso que deixa o cérebro cada vez mais plástico e propenso a aprender”, diz Irene. “Uma criança que é estimulada a usar sua imaginação se torna um adulto mais seguro na tomada de decisões, com maior senso criativo na resolução de problemas”, completa.
1 – Criticar em excesso. Mesmo com a melhor das intenções, críticas devem ser dirigidas ao comportamento, jamais à criança. E, mesmo assim, de maneira cuidadosa. Dizer, aos gritos, “Você é bagunceiro!” não faz ninguém se tornar organizado. Mas “Vamos arrumar estes brinquedos de um jeito bacana juntos?” ensina e ainda dá o exemplo de como falar com as pessoas sem magoar.
2 – Transformar televisão e tablet em brinquedos. Crianças que ficam mais de uma hora por dia com os aparelhos ligados têm seu desenvolvimento afetado, pois, com eles, ela não se movimenta, não interage com os familiares, não brinca. “Eletrônicos nunca vão substituir o efeito positivo da brincadeira livre, que provoca estímulos físicos e mentais fundamentais para o desenvolvimento das sinapses cerebrais”, diz Irene.
3 – Manter a criança sempre ocupada. Ao contrário do que se pensa, uma agenda lotada com atividades, sem tempo livre, não é saudável para a criança. Pelo contrário: tira dela a oportunidade de estimular sua criatividade. Até os 6 anos, pelo menos, a criança precisa, de vez em quando, ficar sem fazer nada. Afinal, são nos momentos de tédio que ela desenvolverá suas ideias, imaginação e entusiasmo por seus próprios projetos. A motivação nasce, justamente, do ócio, pois a sensação de que lhe falta algo precisa ser suprida, o que estimula a mente a buscar maneiras de “preencher” esse vazio, mesmo que seja apenas com o uso de sua imaginação.
Fonte: Revista Crescer