A alergia alimentar, como a famosa alergia à proteína do leite de vaca, é uma reação do organismo a alguma coisa que a criança ingeriu. Existem dois tipos de alergia:
- Reações mais graves e rápidas (mediadas por IgE): acontecem imediatamente depois de ingerir o alimento ou num intervalo de até duas horas.
- Reações menos graves ou tardias (não mediadas por IgE): podem ocorrer algumas horas ou até duas semanas depois da ingestão do alimento; são mais difíceis de diagnosticar.
Leite de vaca, ovo, soja, trigo, amendoim e castanhas como avelãs, nozes e amêndoas são alguns dos agentes mais comuns de alergia alimentar em bebês e crianças pequenas. Corantes artificiais também podem provocar alergia.
Ter alergia a um determinado alimento na infância não quer dizer necessariamente que a criança continuará alérgica para sempre. Muitos tornam-se tolerantes até os 3 ou 4 anos de idade, sendo que desenvolver a tolerância ao alimento espontaneamente é melhor que de forma induzida, segundo alguns especialistas.
Quais são os sintomas da alergia alimentar em criança pequena?
No caso das reações rápidas, os sintomas costumam ser mais claros:
- urticária e vermelhidão, principalmente em torno da boca, dos olhos e do nariz, e que pode se espalhar pelo corpo
- lábios, olhos e rosto inchados
- nariz escorrendo ou entupido, espirros, olhos lacrimejando
- coceira na boca e irritação na garganta
- náusea, vômito, diarreia e cólicas abdominais
Quando a reação é mais grave, a criança pode apresentar chiado no peito, inchaço na língua e na garganta, palidez e queda súbita na pressão arterial.
Esse conjunto de reações se chama choque anafilático, e é uma emergência, pois coloca a vida da criança em risco. Dirija-se imediamente a um hospital.
Em crianças sabidamente alérgicas o médico pode receitar uma injeção de adrenalina que esteja sempre à mão em caso de choque anafilático. Ou pode orientar a administração de corticoides.
Mesmo se você não tiver certeza de que se trata de choque anafilático, dê a injeção receitada pelo médico, não tente provocar o vômito e leve seu filho ao pronto-socorro sem perda de tempo. Felizmente, esse tipo de reação grave é mais raro.
E quando a reação à alergia alimentar é tardia, quais são os sintomas?
Os sintomas mais comuns de uma alergia tardia são:
- refluxo gastroesofágico
- cólica
- diarreia
- prisão de ventre
- presença de sangue ou muco no cocô
- dermatite atópica, principalmente nos bebês alérgicos à proteína do leite de vaca. Quanto mais cedo a dermatite aparece, maior a probabilidade de haver alergia alimentar.
O problema é que as ocorrências acima são bem presentes em bebês e, como a alergia é não-mediada, o resultado dos exames será normal.
A alergia alimentar é apenas uma das possíveis explicações para esses sintomas, por isso é necessário um trabalho quase de detetive por parte do médico para descartar outras causas e fazer o diagnóstico.
Alergia à proteína do leite de vaca (APLV)
A alergia à proteína do leite de vaca é a mais comum em bebês, e é conhecida pela sigla APLV.
O que provoca a alergia são as proteínas presentes no leite de vaca — as caseínas, as beta-lactoglobulinas e as alfa-lactoalbuminas são as mais frequentes responsáveis pelas reações.
De maneira geral, o ser humano não consegue absorver moléculas de proteína grandes, mas existe uma exceção no comecinho da vida (principalmente na primeira semana após o nascimento). Nessa fase, o intestino é mais permeável para que o bebê absorva os anticorpos prontos da mãe .
O problema é que essa permeabilidade intestinal abre uma porta para outras moléculas, ou seja, a criança pode ser sensibilizada pela proteína do leite de vaca.
Alguns especialistas afirmam que a principal maneira de prevenir APLV é não dar leite de vaca para a criança pequena (principalmente no primeiro ano de vida).
Quando o aleitamento materno é interrompido por algum motivo, a opção são fórmulas que conseguem “quebrar” a proteína do leite (leia mais abaixo)
As embalagens dos produtos precisam dizer claramente quais são seus componentes justamente para que os alérgicos as evitem. Mesmo assim, no caso do leite de vaca, não custa anotar alguns dos sinônimos que podem eventualmente aparecer: caseína, soro de leite, proteína láctea, lactoferrina, aroma ou sabor natural de manteiga, leite e queijo, entre outros.
Como se diagnostica a alergia alimentar em criança pequena?
O médico diagnostica a alergia com base principalmente na história clínica, ou seja, nos sintomas apresentados, e também em eventuais testes de exclusão (eliminar o alimento para observar se há melhora).
Os exames laboratoriais são complementares e nem sempre são suficientes para fechar o diagnóstico.
O diagnóstico pode ser feito pelo pediatra, por um gastropediatra ou por um especialista em alergia.
Entre os exames possíveis está medição de IgE no sangue, que são as imunoglobulinas (anticorpos) específicas. Elas aparecem aumentadas nos casos de alergia mediada por IgE.
Há também um exame em que pequenas quantidades de substâncias suspeitas são colocadas na pele da criança para observar reações. Mas, dependendo da idade e do tipo de alergia (como a não mediada por IgE), os exames podem não ser conclusivos.
Outro exame útil pode ser o de sangue oculto nas fezes.
Na maioria dos casos, a alergia fica evidente pelos sinais clínicos e o médico faz o diagnóstico e inicia o tratamento mesmo sem pedir todos os exames.
É possível um bebê que só mama no peito ter alergia alimentar?
Sim, é possível um bebê sob aleitamento exclusivo apresentar alergia alimentar, porque as substâncias ingeridas pela mãe passam para o leite materno.
Por isso, um bebê alérgico ao leite de vaca pode ter sintomas se a mãe tomar leite ou comer laticínios, como queijo, iogurte etc.
Além dos sintomas descritos acima, um bebê alérgico pode ter dificuldade em ganhar peso. No caso de o pediatra desconfiar de alergia alimentar, ele pedirá à mãe que inicie uma dieta de exclusão, deixando de comer os alimentos suspeitos e seus derivados.
O primeiro suspeito é sempre o leite de vaca, mas se o bebê não melhorar pode ser necessário investigar causas secundárias, como uma outra alergia a carne bovina (pela presença de albumina sérica), ovo, soja, trigo, amendoim etc. É ideal ter o acompanhamento de um nutricionista para fazer a dieta.
Sempre que for possível, recomenda-se manter o aleitamento materno, com dieta de exclusão para a mãe. Converse com o médico para que sua dieta seja o menos excludente possível e, assim, não haja risco de desanimar com a amamentação.
Também é importante discutir com o médico se, diante da dieta mais restritiva, é preciso receitar alguma suplementação para a mãe, como de cálcio, por exemplo.
Quando a amamentação não for possível, existem fórmulas hipoalergênicas, em que as proteínas são “quebradas” (hidrolisadas ou divididas em aminoácidos) para evitar a reação.
Essas fórmulas são caras, mas existem programas do governo que as fornecem gratuitamente em postos de saúde. Se precisar, peça informações para o médico.
Fórmulas à base de soja não são recomendadas como primeira opção em crianças de menos de 6 meses, porque é muito comum que bebês alérgicos à proteína do leite de vaca sejam também alérgicos à soja.
Outros “leites” de origem vegetal (de arroz, de amêndoa etc.) só podem ser usados sob orientação médica, porque podem não ter todos os nutrientes de que o bebê precisa.
Qual é o tratamento da alergia alimentar e quanto demora para fazer efeito?
O tratamento é manter a criança longe do alimento que causa a alergia. Mesmo assim, pode demorar de duas a oito semanas para que o organismo “limpe” e os sintomas desapareçam. Tem que ter paciência e persistência.
E então, enquanto a criança permanecer longe do alimento, ela estará bem.
Nos casos de alergia mais grave, cuidados extras devem ser tomados, como a separação de todos os utensílios da criança, talheres, panelas, copo de liquidificador, para evitar a contaminação cruzada.
Também terão de ser evitados alimentos cuja embalagem indicar que podem conter traços do alérgeno.
Produtos alimentícios produzidos a partir de julho de 2016 precisam trazer no rótulo alertas para pessoas alérgicas. O aviso é obrigatório para 18 itens, incluindo leites, trigo, soja, amendoim, peixes, ovos e castanhas.
Às vezes, o médico também receita medicamentos para aliviar os sintomas durante uma crise, quando a criança ainda está sob os efeitos da exposição ao alérgeno, ou se sofrer um contato involuntário com ele, o que não é tão incomum, apesar de todos os cuidados.
Mas esses remédios combatem apenas os sintomas, e não servem para ajudar a curar a alergia.
É verdade que a alergia alimentar vai embora sozinha?
Sim, é possível que a criança se cure sozinha, mas isso depende muito do tipo da alergia.
Por exemplo, em 90 por cento dos casos de bebês alérgicos ao leite de vaca ou a ovos, há cura. Mas no caso de crianças alérgicas a amendoim o índice de cura é muito menor, de 10 a 20 por cento.
Seu filho terá de fazer um acompanhamento cuidadoso. O médico, com o tempo, pode propor novos exames ou a reintrodução bem lenta do alimento para ver se a alergia já foi curada. Às vezes o médico pede um teste de provocação feito no hospital, por segurança (geralmente aplicado depois da restrição do alimento suspeito por cerca de 6 meses e desde que a criança tenha pelo menos 9 meses de idade).
Também é importante saber que crianças que já têm alergia a algo têm possibilidade maior de apresentar alergia a alguma outra substância, e de apresentar problemas relacionados a alergia, como a asma ou a dermatite atópica.
Há como evitar que um bebê desenvolva alergia alimentar?
Os especialistas ainda não chegaram a uma conclusão definitiva sobre como evitar a alergia. Não se sabe ao certo, por exemplo, se é melhor expor os bebês cedo aos alérgenos, para que eles se dessensibilizem, ou se é melhor protegê-los.
É consenso entre os médicos que a amamentação exclusiva até no mínimo os 6 meses de idade reduz o risco de alergias.
Em geral, vale introduzir um alimento de cada vez (principalmente ovos e derivados de leite), para que seja mais fácil identificar uma possível reação.
Alergia a leite é o mesmo que intolerância à lactose?
Não. Na intolerância à lactose os sintomas são só digestivos, pois a criança não consegue digerir a lactose, que é o açúcar do leite.
Lactose é o açúcar encontrado no leite e em outros alimentos e uma enzima presente no intestino, chamada lactase, é responsável por digeri-la. Mas, se o corpo não produz lactase suficiente, a lactose não digerida fica no cólon e provoca os sintomas da intolerância.
Já na alergia a reação envolve o sistema imunológico, com reações que vão além do sistema digestivo, podendo afetar a pele, causar inchaço etc.
Além disso, a alergia mais comum relativa ao leite é à proteína do leite de vaca, e não à lactose. Então, leites e derivados que se dizem sem lactose ou com lactose reduzida não são tratamento para APLV, pois ainda contêm as proteínas que são as causadoras dos sintomas.
Outra diferença é que na alergia a reação acontece ao menor contato com o alimento, enquanto na intolerância os sintomas mudam de intensidade de acordo com a quantidade. E a intolerância à lactose é bastante rara em bebês.
Fonte: BabyCenter